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Por que as pessoas ainda desconhecem as especificidades da LIJ?

uma reflexão sobre os últimos acontecimentos em relação à LIJ

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Até quando?

ATÉ QUANDO?
Até quando teremos que ouvir alguém dizer: você sabe com quem está falando? Você sabe quem sou eu? Confesso que quando escuto isso só consigo pensar que quem profere tais palavras está com crise de identidade, perdido, ainda não sabe quem é. Menos ainda o que veio fazer nesta vida.
Até quando teremos que ouvir alguém dizer que Literatura Infantil e Juvenil é uma literatura menor, que não tem especificidades e que ilustrador não é autor? Estamos em 2018. Confesso que achei que já havíamos virado essa página da história.
Até quando teremos que assistir o desmonte das conquistas que já tínhamos alcançado em relação à Literatura Infantil e Juvenil?
Até quando teremos que ouvir discursos homofóbicos, racistas e preconceituosos?
ATÉ QUANDO?
Quem me conhece, sabe que acredito que tudo na vida se aprende, inclusive a amar, respeitar e perdoar. Por isso, uma possível resposta para minhas perguntas seja: até o que dia em que todas as pessoas tiverem aprendido a se respeitar e a respeitar as individualidades de cada um, sem querer diminuir, ofender ou se achar melhor do que o outro, porque ninguém é.
Nos últimos dias, tenho lido nas redes sociais e escutado tantas falas desrespeitosas e mesmo equivocadas que estava aqui refletindo antes de escrever qualquer coisa.
Trabalho com Literatura Infantil e Juvenil desde 1986, mas no ano anterior, ainda estudante de Letras, participei do I Congresso de Literatura Infantil e Juvenil, organizado pela FNLIJ. De lá pra cá, já vi muita coisa acontecer. Recordo-me que no final dos anos 1980 vi nascer a Associação de Ilustradores do Rio de Janeiro, a AIRJ, aqui no Rio. Recordo-me de Ivan Zigg e Marcello Araujo indo à FNLIJ (eu trabalhava lá na época) debater com Elizabeth Serra sobre a importância da ilustração dos livros infantis e juvenis como arte e do ilustrador como autor. Lembro-me de Denise e Fernando (uma dupla de ilustradores) levantar essas mesmas questões num seminário organizado pela BIMLIC. Na sequência, me lembro de Ana Raquel Iluscritora Apresenta, Marilda Castanha, Nelson Cruz, Graça Lima e tantos outros lutando pela valorização do ilustrador, lutando por contratos para os ilustradores, pagamentos dignos… Também vi nascer o PROLER e tantos outros projetos de incentivo à leitura. No final dos anos 1990, ajudei a fundar a Associação de Escritores e Ilustradores do Rio de Janeiro, a AEILIJ com tanta gente bacana. Vi eventos literários começarem a pipocar aos quatro cantos deste nosso imenso país. Vi o debate em torno da Literatura Infantil e Juvenil crescer a cada dia, a cada ano. Cheguei a acreditar que a coisa havia deslanchado e que vivíamos momentos serenos. Que finalmente as pessoas tinham entendido a importância da Literatura Infantil e Juvenil e da formação dos leitores; entendido o debate sério e profundo em torno do livro voltado para crianças e jovens.
Mas, de repente, bateu um vento torto e tirou tudo do lugar novamente. Surgiu um curador que desconhece as questões que envolvem a Literatura Infantil e Juvenil e o livro ilustrado. Surgiram programas de governo mais voltados para o pedagógico do que o literário. Pais e professores, portanto, educadores, andam vetando temas que tocam nas questões da vida de forma mais profunda. O Programa de Leitura Adote um Escritor, programa da Câmara Rio-grandense do Livro, organizadora da Feira do Livro de Porto Alegre, corre o risco de não acontecer tendo em vista a demora da SME de Porto Alegre em formalizar o convênio de cooperação. Assistimos de camarote o desmonte da Flipinha e da FlipZona nos formatos que davam certo, porque tinham um trabalho anual de formação de leitores, com projetos de leitura incríveis e formação de professores. Sim, formar leitores, pra quem não sabe, é um projeto de longo prazo, e como já disse é um projeto silencioso que requer tempo, não faz alardes, mas forma cidadãos mais humanos e críticos. E ais uma novidade foi descobrir que a prefeitura de Porto Alegre querer cobrar aluguel da praça para a Feira do Livro. Sem contar as bibliotecas que foram fechadas por falta de verba para continuidade de seus trabalhos… Nossa! Que canseira!
Então, me lembrei de uma frase que ouvi de meu professor de yoga: mar calmo não forma marinheiro habilidoso. E o mar estava calmo demais. O vento torto veio para nos mexer e nos deixar mais habilidosos para enfrentar toda essa barbárie que ainda estamos vivendo. Esse retrocesso está servindo para unir escritores, ilustradores e até editores como nunca antes havíamos visto.
Conclusão: o vento torto começou a soprar a nosso favor e nos lembrou de que juntos somos fortes. Assim, nos unimos para defender as especificidades da nossa Literatura Infantil e Juvenil. Para que nunca mais nenhum curador de Prêmio, seja do Jabuti ou de qualquer outro, desrespeite a nossa causa e as nossas conquistas de anos. Para que nunca mais haja desmontes da área infantil e juvenil de nenhum evento literário. Para que a Literatura Infantil e Juvenil seja respeitada como deve ser.
Sim, tudo na vida é de aprender. Quem ainda não sabe disso, tem uma longa estrada pela frente. Quem se acha o dono da verdade e utiliza sua arrogância para se achar mais forte ainda não aprendeu sobre respeito. Quem destila discurso homofóbico ainda não aprendeu que AMOR não tem gênero. Quem tem uma fala racista, ainda não aprendeu que alma não tem cor, e que a cor da pele só aparece nos três milímetros de fora, porque por dentro, depois disso, somos todos iguais, como me ensinou minha amiga Andrea Viviana Taubman .
Palmas para meu amigo Roger Mello, que mesmo sendo provocado, respondeu aos ataques prepotentes com educação e doçura.
E viva o vento torto que uniu a turma da Literatura Infantil e Juvenil.
Ah! Fica uma última dica: humildade também é sentimento de se aprender!

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