Sempre inventei tudo que queria ter. Sempre quis ser mais de uma. Achava que uma vida só era muito pouco para uma pessoa. O fato de ter nome composto ajudou um pouco a resolver essa questão. Sempre fui muitas: Anna, Anninha, Claudia, Claudinha, Anna Claudia, Clau… para cada nome uma história, uma possibilidade de ser.
Tive uma infância feliz, brinquei muito. Nasci numa família que respeita o jeito de ser de cada um. Meu pai e minha mãe me deixaram brincar de tudo, de bonecas e casinha a carrinhos, futebol e jogo de botão. Por isso mesmo, nunca ouvi que existia distinção entre brincadeiras de meninas e meninos. Brincadeira era coisa de criança. E pronto! Coisa boa que só!
Na infância vivia inventando tudo que queria ter e não tinha. Virei princesa e tive cavalo voador, fazenda imaginária de avô e até um “Reino das Águas Claras” só pra mim, que passava atrás da casa que tínhamos em Nova Friburgo. Bicicleta virava cavalo e lá ia eu cidade afora desbravar caminhos por entre as montanhas de Friburgo. Claro que na adolescência chegaram as dúvidas e as inseguranças. Claro que tudo isso me levou a escrever. Escritos que guardo até hoje e que quando os visito me assusto com o que eu já pensava e nem sabia. Coisas do tempo e da vida. Bonito de ler, mas bonito de saber que ficaram lá, na minha pasta de escritos da juventude, junto com meus diários recheados de histórias e segredos. E anseios. Muitos!
Meu irmão e minha melhor amiga (que tem uma parte de meu nome: Anna) foram os meus maiores confidentes de infância e adolescência. É bom ter amigos de verdade, com quem podemos dividir alegrias e tristezas. Acolhe e dá segurança. Com eles dividi segredos e histórias, com eles passei noites papeando, rindo, chorando. Vivendo!
Casei e tive filhos relativamente cedo. Mas sempre fui muito responsável. Decidi dar aos meus filhos aquilo que tive: respeito pelo jeito de ser de cada um. Eduquei-os para que pudessem ter suas próprias asas, mas cultivassem suas raízes como um porto seguro. Família para mim é coisa de se cuidar e amar. Família por parte de pai no Rio, por parte de mãe em Porto Alegre. Primos, tios e avô morando longe, com outras histórias, que em alguns momentos se cruzavam.
Infância: com desejos, histórias, amores, medos, choros e alegrias, uma babá incrível inventadora de histórias. Adolescência: com descobertas, amigos, viagens de mochila nas costas, teatro, namoros, alguns medos e segredos, anseios, mas com muita sede de vida. Vida adulta: com os filhos que chegaram, as viagens que precisei adiar, as novas descobertas, os novos aprendizados, os trabalhos, as renúncias que foram necessárias, a separação e suas dores, as novas buscas pela vida, muitas! E a sede de vida sempre me chamando. Sempre em mim a eterna busca de autoconhecimento e aprendizados pelo que é do eterno da vida.
Somos feitos de pedaços de vida que nos constituem. Temos a ilusão da completude, mas não somos completos, e é essa falta que nos move rumo à criação. Sou um misto de falta e amor. E isso me move a querer ir sempre em frente. Sempre em busca de me tornar uma pessoa melhor.
Faço yoga, pratico remo, pedalo, adoro esportes, livros, histórias, viagens, amigos e pessoas. Adoro conversar. Adoro o que é simples. Sou espírita kardescista, acredito no ser humano e nas possibilidades de nos tornamos pessoas melhores e ajudarmos o próximo.
Minha escrita de certa forma me revela. Conta o que penso da vida. Minha imaginação foi muito bem alimentada desde que eu era menina, com muitas histórias que só fizeram alargar meus horizontes. Histórias não servem para ensinar nada, mas para nos educar por dentro. Educar no sentido mais amplo da palavra. Trazer de dentro para fora. Educar os nossos sentidos, os nossos sentimentos.
É isso, sou feita das tantas histórias que já vivi ao longo da vida. Das histórias que chegaram e partiram, mas que ficaram para sempre tatuadas em mim.
