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Novos tempos no mundo dos livros

Um texto pós Bienal do Livro 2014.

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Novos tempos no mundo dos livros

Com a chegada de mais uma edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto de 2016, achei pertinente postar a avaliação que fiz logo após a Bienal de 2014, quando voltei para minha casa, no Rio de Janeiro. Minha avaliação dizia o seguinte:
Desde 2013, venho falando que somos protagonistas de Novos Tempos. Tempos de mudanças, de intensa renovação. Esta edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo me mostrou que estou no caminho certo ao fazer esta afirmação.
Trabalho com literatura para crianças e jovens e formação do leitor desde 1985. De lá para cá, muita coisa mudou. Muito há ainda por fazer, claro! Não sou ingênua, mas sou otimista. Acredito nas mudanças que chegam com o tempo de forma solidificada e não em mudanças superficiais. Eu sabia que, um dia, já teríamos tempo histórico para avaliarmos o que começou a ser feito lá atrás. Livros chegando às escolas, projetos de incentivo à leitura espalhados pelo Brasil afora, e muita gente empenhada em fazer algo em prol do livro e da leitura. Hoje, temos Feiras de Livros e Encontros Literários em diversos locais deste imenso país. Não estou aqui querendo fazer campanha política para ninguém e muito menos atacar ou defender governos. Estou apenas dando meu depoimento de escritora, educadora e pessoa que milita na causa do livro e da leitura.
Sabemos que temos sempre coisas a melhorar em Bienais e Eventos Literários, fato. Um evento de grande porte nunca dará 100% certo, sempre terá algo por corrigir, mas ao invés de falarmos do que não deu certo, do que não foi bom, vamos falar do que deu certo. Antigamente, quando dizíamos que não sei quantas mil crianças e jovens haviam passado pela Bienal, era apenas isso: passavam e pronto, nada mais. Mal viam os livros, um ou outro comprava alguma coisa e queriam, mais do que tudo, pegar panfletos e marcadores de livros. Mas agora tudo começa a mudar. Tudo bem que existem os que querem apenas o oba-oba, ver os famosos, tirar fotos e postar nas redes sociais. Isso existe em qualquer lugar. Mas vamos falar das crianças e jovens já se apropriam do espaço da Bienal e não das que apenas querem o que é fugaz. Durante toda a semana, vi muitas crianças e jovens comprando livros, lendo pelos corredores, compartilhando leituras, querendo conversar com os escritores, participando da programação cultural. Vi editores presentes durante quase todo o tempo da Bienal, quando antes os víamos apenas nos primeiros dias. Algo começa a mudar? Veremos.
Eu, pessoalmente, participei de alguns encontros que me mostraram que, mais do que erros, a Bienal teve acertos. O tempo histórico de investimento na formação do leitor a longo prazo está começando a dar frutos. Aquelas crianças que começaram a ter professores mais engajados no mundo da leitura e começaram a ter e ler livros nas escolas cresceram. Hoje, esses jovens têm fome de livros, de histórias, de conhecimento. Se engana quem diz que o jovem não lê. O que o jovem não lê? O que ele é obrigado a ler? Essa é uma discussão que não está em pauta aqui.
Sim, estamos começando a colher frutos e já podemos pensar numa análise histórica para avaliar o impacto deste investimento de formação do leitor.
Alguns jovens em especial marcaram minha Bienal. Dois, alunos de uma escola pública que acabei atendendo no estande da editora Cortez. Eu havia ido lá para um bate papo com alunos de uma escola particular. Acabei atendendo muito “por acaso” um grupo de uma escola pública que entrou no estande. Ofereci um bate papo com as crianças, alunos de quinto ano, já que eu havia chegado cedo para meu encontro. A professora agradeceu, porque seus alunos nunca tinham ido a uma Bienal e, menos ainda, conversado com um escritor. Ficamos por volta de uns quarenta minutos entre papo e perguntas. Ao final, com exceção de uns quatro, o restante das duas turmas quis gastar o vale-livro que tinha ganho para comprar meu livro e pegar autógrafo.  Enquanto eu autografava, um menino disse para a professora que lamentava não ter levado dinheiro para comprar o livro da Cecilia Meireles que ele tanto queria.. E outro disse para um amigo: “não pegue isso, porque não é seu, será que ainda não entendeu que esse não é o caminho?”. A outra jovem foi uma menina que conheci no estande da Record. Ela estava triste por não ter conseguido a senha para uma determinada sessão de autógrafos. Quando descobriu que eu era escritora, puxou papo e ficamos ali, conversando sobre livros. Eu falei sobre meu livro e ela pediu que eu a esperasse enfrentar a longa fila do caixa, porque ela queria meu autógrafo. Seus olhos me buscavam na multidão do estande na esperança de que eu não tivesse ido embora. Não fui. Esperei, autografei, ela me pediu sugestões de leitura e ficamos mais um pouco conversando, tiramos foto e ela se foi. Com certeza ela saiu ganhando. E eu também. Vivemos uma experiência de escritor e leitor que eventos como esse nos proporcionam.
Eu poderia falar muito mais coisas, mas não vou me estender mais, fico por aqui na certeza de que estamos começando a colher os frutos do tempo, que não há mais espaço apenas para reclamações sem ações. Sejamos atuantes nesses Novos Tempos no mundo dos livros em plena Era do Conhecimento. Que possamos aplacar a fome de livros e histórias! Tudo junto e misturado, como bem dizia o slogan da Bienal. Há espaço para todos. Só não há mais espaço para pensamentos ranzinzas e velhas reclamações. Quer ver algo novo? Faça, colabore, compartilhe, coopere. Um dia você começará a colher frutos.

 

Este é apenas um depoimento de escritora, educadora e pessoa que milita na causa do livro e da leitura.

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