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Autor não é brinde!

Um texto esclarecedor!

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Autor não é brinde!

Escrevi este texto, em 2011, quando ainda pertencia ao quadro de associados da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, a AEILIJ. Passaram-se muitos anos, não sou mais associada, mas este texto ainda está tão atual que vale divulgá-lo novamente. Segue o texto tal como foi escrito na época:
Durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo de 2010, lancei a ideia de a AEILIJ criar uma campanha de conscientização da sociedade civil sobre quanto os autores recebem pela venda de seus livros. Naquela ocasião, eu era a presidente da AEILIJ e recebia muitos e-mails de associados de todo o Brasil se queixando de que eram convidados para dar palestras e oficinas em escolas, bibliotecas públicas e feiras de livros sem receber cachê, apenas em troca da divulgação de seus livros. Sabemos que cada caso é um caso, cada caso é diferente e vale uma conversa, mas vamos explicar o porquê desta campanha que chamei de Autor não é brinde!
Diversos associados escutam de coordenadores escolares que é um absurdo o autor cobrar um cachê para ir à escola, porque os ganhos com a venda dos livros são expressivos. É fundamental que as pessoas entendam que não recebemos o preço total da compra dos livros, recebemos apenas um percentual sobre as vendas. Esse percentual pode variar de 5 a 10% dependendo de cada caso. Portanto, para um autor de livros de Literatura Infantil e Juvenil viver apenas de ser autor ele precisa vender muitos livros. Acontece que nem todo livro chega às livrarias, mas isso é outra história. Então, é preciso que as escolas adotem os livros ou que os livros entrem em alguma venda governamental. Se uma escola adotar um livro para uma turma de 25 alunos, se esse livro custar R$ 20,00 e o autor receber 10%, ele vai receber apenas R$ 50,00 sobre a venda desses 25 exemplares. É preciso esclarecer também que esse valor só será pago em um acerto trimestral, podendo até ser semestral em alguns casos. O autor também só receberá essa quantia se a venda for feita sem nenhum desconto, porque muitas editoras pagam sobre o preço de venda e não sobre o preço de capa do livro, mas isso também é outra história. Sendo assim, se uma escola nos convida para passar uma manhã batendo papo com uma turma, deixamos nossos trabalhos, nossas casas, nossas famílias para atender a esse pedido, mas só vamos receber os direitos autorais referentes à venda desses livros alguns meses depois. Nós adoramos esse contato com os leitores, é uma troca ímpar, enriquecedora, mas precisamos pagar contas. As pessoas olham o suposto glamour de ser autor, mas não entendem que ser autor não é um hobby, é trabalho. Trabalho árduo, diário, de busca pela melhor palavra para um texto ou pela melhor imagem. O trabalho artístico precisa ser tão valorizado quanto o científico, pois ambos são importantes para uma sociedade.
Sabemos que existem escolas, organizadores de feiras de livros e coordenadores de bibliotecas públicas que já entenderam que o autor precisa receber cachê por sua participação em eventos, senão ele não sobrevive de sua arte. Palmas para esses profissionais!
É fundamental que se valorize a venda dos livros, os pagamentos em dia e cachês por palestras, oficinas, cursos e bate papos com leitores. Ninguém compra 20 CDs de um cantor e liga para esse músico dizendo: olha, eu comprei alguns CDs de sua autoria, e queria que você viesse aqui na minha escola fazer um show em troca da divulgação do seu trabalho… Ninguém contrata um grupo de teatro para se apresentar em uma escola ou um evento sem pagar cachê. Por que com os autores de livros seria diferente? Por que eles terão ganhos expressivos? Ledo engano. Não temos ganhos expressivos, mas queremos viver honestamente de nosso ofício. E muitas vezes os autores que possuem emprego fixo, precisam compensar sua ausência no trabalho para atender uma escola ou pagar um colega para substituí-lo, caso precise se ausentar por mais de um dia.
Não somos um brinde que vem junto com o livro, tipo compre o livro e leve o autor de brinde para bater um papo. Somos profissionais da palavra e da imagem. É claro que cada caso é um caso e não somos pessoas inflexíveis. É conversando que a gente se entende e o combinado não sai caro, como diria uma grande amiga minha. Portanto, vamos pensar quanto vale o trabalho de um autor e que sociedade leitora é esta que desejamos formar se o criador dos textos e das imagens das histórias não for valorizado.
Autor não é um brinde que vem junto com o livro, tipo compre o livro e leve o autor de brinde para bater um papo.

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